Lutar violentamente pela vida

Luiz Fernando Pimentel
3 min readApr 19, 2020

Quando toda essa situação do Corona Vírus saiu do controle eu ainda não imaginava que precisaríamos de tanto tempo de isolamento, não imaginava que as coisas chegariam ao ponto que chegaram. Caso você seja do futuro e esteja lendo isso (caso o futuro tenha existido, claro), hoje é dia 19/04/2020 e oficialmente temos perto de 3mil mortos por Covid 19 no Brasil. Mas então, como uma mórbida piada, decidi assistir The Walking Dead desde o começo. Assisti as 2 primeiras temporadas anos atrás, devorei várias HQs e fiquei ansioso pelas novas temporadas e elas me decepcionaram bastante. Mas não é disso que quero escrever.

Até um ponto da história sobreviver em The Walking Dead significava encontrar abrigo, comida e evitar ataques de zombies. Porém, chega um ponto em o maior perigo passa a ser os vivos, e agora assistindo a série em sequência, consigo perceber que mesmo fugindo muito do roteiro que são as HQs a série da TV consegue demonstrar isso. E o que fica claro é que o mundo pós apocalíptico não é tão diferente do que era antes.

Mas além disso, algo que ainda não tinha entendido antes, os sobreviventes que dão a tônica às histórias lutam violentamente pela vida, mesmo que isso signifique viver num mundo de caos e horror. Eles querem estar vivos mesmo que não tenham o que comer no próximo dia, mesmo que estejam em risco o tempo todo, mesmo tendo perdido familiares e amigos, mesmo perdendo suas casas, empregos, carreiras e propósito de vida. Nada importa, apenas e somente continuar vivo. E isso trouxe uma mensagem muito importante pra minha mente.

Já quis em muitos momentos tirar minha vida, já tive comportamentos auto destrutivos que eram uma forma de abreviar minha existência, já quis desistir de tudo, inclusive da dádiva de estar vivo. Eu nunca cheguei a de fato tentar suicídio, mas esse pensamento permeou minha mente muitas vezes. E hoje uma série cheia de pessoas mortas me fez perceber que eu não tenho essa paixão toda pela vida, e isso me deixou pensativo.

E após pensar bastante concluí que sim, é necessário lutar violentamente pela vida, a começar pela minha. Eu ainda não sou quem gostaria de ser, ainda não consegui formar a família que sempre sonhei, não tenho grandes aspirações para o futuro, não tenho muitas certezas sobre o amanhã, mas estando literalmente morto, ou morto apesar de vivo, não terei a possibilidade de viver o caminho que me levará ou não a todas as coisas que ainda espero.

“Se eu morrer , se eu descer à cova, que vantagem haverá? Acaso o pó te louvará?” (Salmos 30:9a)

A vida é um dom precioso, de valor incalculável, muito dolorosa na maioria do tempo, implacável, mas também maravilhosa. Estar vivo, mesmo que nas maiores dificuldades é melhor do que não ter parte na existência.

Eu quero lutar violentamente pela minha vida, sem pegar em armas, claro, mas sabendo que sim, faço falta pra alguém, que se eu partir deixarei uma lacuna que nada poderá ocupar na vida de muitas pessoas, que mesmo que a incerteza do amanhã seja a maior certeza que tenho, meu lugar não é aqui e para onde vou não há lágrimas, nem dor, nem morte, nem mal.

Algo que escrevo e falo há muitos anos é que mesmo que a alegria venha pela manhã, algumas noites duram mais tempo que deveriam. Enquanto passamos por elas, devemos estar atentos, alertas e dispostos a lutar com todas as nossas forças pela vida. Violentamente. Não importa o tamanho da dor. A vida é maior e mais importante.

“Senhor , tiraste-me da sepultura ; prestes a descer à cova, devolveste-me à vida.(…) Pois a sua ira só dura um instante, mas o seu favor dura a vida toda; o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria.” (Salmos 30:3‭, ‬5)

--

--